sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

D Mingus - Saturno Retrógrado (2015)


Escuta e download em: https://dmingus1man.bandcamp.com/album/saturno-retr-grado

Saturno Retrógrado, quarto álbum solo do compositor pernambucano D Mingus, é um disco de ruptura. Primeiro, porque é o menos “solo” da discografia do cara, já que conta com um caralhau de participações especialíssimas, dos brother in arms Angelo Graxa, Juvenil Silva e Zeca Viana aos “parceiros espirituais” Bonifrate (Supercordas) e Daniel Liberalino. Depois, porque joga o folk caseiro de Canções do Quarto de Trás (2012) e os climas gélido-futuristas de Fricção (2013) em uma sonoridade caleidoscópica em que ainda cabem com folga psicodelia, rock de garagem, música nordestina, pop e sutis toques orientais.

Em toda a sua diversidade, Saturno Retrógrado se assemelha mais a Filmes e Quadrinhos (2010), primeira aventura solo de Mingus pós-Monodecks. Mas enquanto aquele era um disco de sonoridade mais contida, que espertamente usava a sutileza para driblar as limitações técnicas da gravação caseira, Saturno Retrógrado é um trabalho muito mais complexo e bem acabado, em qualquer direção que toma.

Sim, Saturno Retrógrado é um disco predominantemente roqueiro, coalhado de fuzz (vide “Carnaval dos Sentidos”, “Zeto, o Tal”) e de riffs e solos fritados (“Jovem Vampiro”).  Mas essa talvez seja uma definição rasteira, simplista até. As guitarras podem até dar o tom, mas nem sempre conduzem aos lugares óbvios.

É torcendo e entortando a fórmula que o discurso de Mingus encontra mais ressonância; entre soluções melódicas que fogem do lugar comum de forma espontânea, tão naturais quanto um papo de esquina. O “complexo” de alguns parágrafos acima vai se alojar nos arranjos, cheios de detalhes a serem descobertos a cada audição, de preferência com uns fones decentes.

Não por acaso, Saturno Retrógrado é o disco de Mingus que mais demorou a ser concluído – as gravações correram soltas entre 2013 e o segundo semestre desse ano, em diversos home estúdios espalhados por aí. Talvez por isso, a busca solitária do artista seja um tema recorrente no disco, com Mingus ora pulando “de galho em galho/de muro em muro” (“Gato da cidade”) para sobreviver numa “Ostra City/ fechada em sua própria escrotice” (“Ostra City”); ora se imaginando “em um fosso secreto/do piano bar/uma orquestra de fantasmas/a me acompanhar/resignados” (em “Sinfônico Blues”).

Na delicada “O Náufrago”, cheia de climas e detalhes à Olivia Tremor Control, o cantor resume, em poucas e boas palavras, o processo exaustivo da labuta criativa: “jogando minha rede contra a maré/ às vezes o que eu pesco/ é deserto, não dá pé”.

É esse sentimento de resistência e persistência e, sobretudo, de completa segurança no fazer artístico que dá a Saturno Retrógrado uma carga visceral, mesmo nos momentos mais quietos. Artista já acostumado a nadar contra a maré e os tubarões, D Mingus atravessou um Capibaripe de adversidades e saiu do outro lado com um discão. Agora quando alguém pedir pra tocar “aquele disco massa”, você tem mais um pra escolher.

Por Alexis Peixoto (site: O Inimigo)


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